O Dia Mundial de Combate à Poliomielite é celebrado anualmente no dia 24 de outubro. A poliomielite, também conhecida como PÓLIO ou PARALISIA INFANTIL, é uma doença infecciosa que afeta especialmente crianças. Programas de vacinação em larga escala foram bem-sucedidos em eliminar a doença em vários países. Infelizmente ainda temos transmissão dos vírus em algumas regiões.
Existem três sorotipos do vírus da pólio: sorotipo 1, sorotipo 2, sorotipo 3. Os poliovírus sorotipo 2 e sorotipo 3 na sua forma selvagem são considerados erradicados. O poliovírus sorotipo 1, também na sua forma selvagem, ainda incide nos dois países considerados endêmicos, Paquistão e Afeganistão. Mas os casos pelos poliovírus derivados da vacina oral atenuada, independente dos sorotipos, continuam incidindo em vários países.
Sintomas, transmissão e risco da doença
A pólio é uma doença grave, que pode causar paralisias e até matar. Em cada 200 crianças afetadas, uma ficará paralisada e até 5% das paralisadas morrerão, porque seus músculos respiratórios serão afetados. Muitas das crianças afetadas podem ter meningite causada pelo vírus. As crianças, mesmo assintomáticas, são contagiosas e podem contaminar outras crianças. Essas outras crianças infectadas, se suscetíveis, podem ter a doença.
O período de incubação varia de 4 a 35 dias, embora seja mais frequente de 7 a 10 dias, período esse de maior transmissibilidade do vírus. O indivíduo infectado e o indivíduo vacinado com a vacina oral podem eliminar o poliovírus pelos seus intestinos por semanas e até mais de um ano, independente do sorotipo do poliovírus.
Há relatos de portabilidade do poliovírus nos intestinos de indivíduos imunossuprimidos por vários anos.
Crianças abaixo dos cinco anos de idade são as de maior risco de apresentar a doença, embora qualquer pessoa suscetível, não vacinada, mesmo na faixa de idade do adulto, possa adquirir a doença.
O único reservatório do poliovírus é o homem. A pólio é altamente contagiosa, transmitida de pessoa a pessoa por gotas respiratórias (contato de pessoa a pessoa, embora mais raro) ou através das mãos, utensílios, alimentos e água contaminados com fezes de indivíduos infectados. Comunicantes dos indivíduos infectados apresentam taxas altas de soroconversão, superiores a 90%.
Alta densidade populacional, além de saneamento básico e serviços de saúde precários são fatores que contribuem com a transmissão. Mas a baixa cobertura vacinal em uma localidade é condição das mais importantes para aumentar o risco da doença nos indivíduos suscetíveis.
Tratamento e prevenção
Não há tratamento específico para a doença.
A única maneira de se prevenir a doença é através da vacinação adequada. Embora a transmissão possa ser reduzida através da provisão de água potável, adoção de medidas adequadas de higiene e saneamento básico, apenas a vacinação é a medida mais segura e confiável para proteção individual.
Dois tipos de vacinas contra pólio são disponíveis para a vacinação de rotina: a vacina com poliovírus inativado (VIP) e a vacina com poliovírus atenuado (VOP).
Até 2016, a vacina VOP trivalente (contendo poliovírus sorotipo 1, sorotipo 2 e sorotipo 3) era utilizada, e seu uso na rotina predominava nos países em desenvolvimento. Os indivíduos vacinados com a VOP apresentavam uma boa resposta humoral, embora variável conforme a interferência de alguns fatores, e uma imunidade intestinal razoável. A vacina VOP é de baixo custo e fácil de administrar, principalmente quando existe uma grande população a ser vacinada.
Por outro lado, a imensa maioria dos países desenvolvidos já utiliza a vacina VIP há muito anos, na sua forma exclusiva, combinada ou não a outras vacinas (penta ou hexavalente) ou stand-alone (isolada e não combinada). Sua administração é intramuscular e suscita uma excelente resposta humoral. Não suscita imunidade intestinal. É uma vacina de custo mais alto que a vacina VOP, mas que oferece enormes benefícios.
A partir de 2016, a clássica VOP trivalente foi substituída por uma VOP bivalente (contendo poliovírus sorotipo 1 e sorotipo 3), para diminuir os eventos adversos atribuídos, especialmente, ao poliovírus sorotipo 2. A partir dessa data, a Organização Mundial da Saúde recomendou que os programas de vacinação contra pólio contemplem sempre a primeira dose com a vacina VIP e as demais com VIP ou VOP, com previsão, a médio prazo, da vacina VOP ser integralmente substituída pela VIP nos programas nacionais de vacinação.
A clássica VOP bivalente ainda é usada em algumas regiões, como nos países do continente africano. Na América Latina, mais de 15 países já usam exclusivamente VIP, seja combinada a outras vacinas ou stand-alone.
A programação a partir de agora é a substituição irrestrita das vacinas atenuadas pelas vacinas inativadas. Foi sintetizada recentemente uma nova VOP, com potencial reduzido de eventos colaterais, para ser utilizada essencialmente em surtos de pólio, como os que vêm ocorrendo pelos poliovírus derivados das vacinas orais. Não é destinada à vacinação de rotina.
O Brasil já recomendava no seu calendário, desde 2012, aproximadamente, as duas doses iniciais com a VIP. Em 2016 passou a recomendar as três primeiras doses com a vacina VIP. Os estudos mostram que a soroconversão com duas doses de VIP já ultrapassa 90% e com três doses, se aproxima dos 100%. Mas continuou a propor uma quarta dose no segundo ano de vida utilizando a VOP.
Este ano, atendendo a uma solicitação (2023) do Comitê Técnico Assessor em Imunizações do Ministério da Saúde, o país já está substituindo a vacinação VOP por uma dose da vacina VIP. Será a quarta dose de VIP, um reforço do esquema primário de vacinação. E retirando a vacina VOP do calendário em qualquer dose.
É fundamental que a cobertura vacinal aumente e alcance os 95%, para que todas as crianças até cinco anos de idade sejam atingidas com a vacinação completa.
Relatora:
Luiza Helena Falleiros Arlant
Professora Doutora Coordenadora do Departamento de Saúde da Criança – Universidade Metropolitana de Santos (SP); Presidente da Câmara Técnica de Certificação da Erradicação da Poliomielite – Ministério da Saúde do Brasil/OPS/OMS; Membro do Comitê de Vacinas e Biológicos da Sociedade Latino-Americana de Infectologia Pediátrica (SLIPE); Membro do Departamento Científico de Infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo
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