O Cremesp participou das discussões sobre “O impacto das provas de residência médica no currículo de graduação”, no evento da WebhallEPM, promovido pela Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp), nos dias 20 e 21 de novembro.
Se o desafio de pensar o ensino médico já estava em pauta, com o advento da pandemia de covid-19, tornou-se ainda mais necessário. Muitas iniciativas tiveram de ser implementadas de forma acelerada, incluindo plataformas digitais, aulas a distância, avaliações remotas, entre outras.
No encontro online, foram debatidos aspectos sobre a formação, valores e competências do médico que melhor atenderão as atuais demandas da sociedade, de forma a conciliar o atendimento básico, alta tecnologia e o humanismo na relação médico paciente.
Até que ponto os limites e as dificuldades enfrentadas na prova de residência médica refletem esses desafios durante a formação? Questionou a presidente do Cremesp, Irene Abramovich, médica neuropediatra com larga experiência na coordenação do Programa de Bolsas de Residência Médica do Governo do Estado de São Paulo, durante debate com os professores e membros da Coreme da EPM. “A prova de residência tem influenciado na qualidade da formação dos alunos de Medicina. Os cursinhos têm substituído a formação do aluno com o único objetivo de fazer com que ele passe no exame e ingresse no programa de residência”, avaliou.
Segundo ela, por melhor que sejam elaboradas, os cursinhos preparativos para as provas de residência só têm contribuído para piorar o ensino médico. “A prova prática de residência não levou à melhoria dos cursos. Cada vez mais os alunos se dedicam menos à formação porque é o cursinho que os colocam dentro da residência. Não dá para mudar por decreto, temos de discutir seriamente essas questões.”
Qualidade na formação Irene acredita que o que está em jogo – e também deve ser objeto de atenção – é a qualidade da formação do aluno durante todo o curso de Medicina, que necessariamente deve contemplar a expertise na relação médico paciente. Para ela, o curso de Medicina tem de estar ligado à relação médico paciente. “É preciso ensinar o aluno a atender o paciente, e isso o cursinho não faz, eles ensinam dicas de prova, não ensinam medicina. E os alunos acabam se preocupando em estudar rodapé de livro para passar na prova, deixando de aprender a medicina do dia a dia, a prática médica”, avaliou.
Talvez essa falha na formação explique por que sobram vagas de residência para médicos de família, ao mesmo tempo em que a especialidade é vista como fundamental para a sociedade. Segundo Irene, sobram mais de 40% das vagas para a especialidade porque “nenhuma escola motiva o aluno a ser médico de família, e ele não é valorizado como profissional, em comparação com especialidades mais concorridas”, observou.
Sendo somente classificatória, a prova de residência não se destina a verificar se o médico teve uma boa formação, isso é função da escola, avalia. “Quando a escola dá o diploma, diz, ele é médico. E essa é uma situação que nos assusta muito porque o indivíduo que não está na residência, onde está? No estágio, dando plantão, exercendo uma série de funções, sendo que ele não está habilitado sequer para fazer residência daquilo que gostaria.”
Na avaliação da presidente do Conselho, não é verdade que sobrem muitas vagas de residência, o que existe é uma má distribuição e falta de planejamento. “Sobram vagas em algumas áreas e faltam em outras, isso porque não existe uma organização em relação ao sistema de saúde, como se vê em outros países, que formam especialistas em função das demandas da sociedade”, afirmou.
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