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Fecha essa janela, você vai ficar doente com esse “vento encanado”


Fecha essa janela…

Em ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’, Machado de Assis dá ciência sobre a causa morte do personagem principal, desta maneira: “… Brás resolve inventar um emplasto que lhe traria fama e assinaria seu nome para a posteridade. Mas em determinado dia, de tanto pensar a respeito desse emplasto, coloca-se em frente a sua janela e recebe um vento encanado, que será responsável por uma pneumonia e consequente morte. Brás Cubas deixa claro que não morrera de pneumonia, mas por causa do emplasto, que fez com que abrisse a janela e recebesse o vento”.


“Vento encanado”, “friagem”, “tomar gelado”, “andar com os pés descalços ou lavar a cabeça no tempo frio”, parecem desempenhar, no imaginário popular, um mesmo papel – contribuir para o desenvolvimento de doenças respiratórias ou de vias aéreas. Pavor das avós!


Qual a verdade dessas correlações?

Quando as vias respiratórias são atingidas por um ar mais seco e frio ocorre diminuição da produção do muco eliminado pelas glândulas das vias aéreas, na qual existem enzimas e anticorpos protetores e, com o frio, o transporte do muco das vias aéreas inferiores para as superiores fica comprometido e pode fazer com que as doenças respiratórias aconteçam com maior facilidade – por estes motivos recomenda-se manter a respiração pelo nariz e não pela boca, com o intuito de aquecer e filtrar o ar que entra para os pulmões.


As vias aéreas funcionam melhor em temperatura constante, quando a temperatura está baixa ocorre vasoconstrição (diminuição do calibre dos vasos sanguíneos) podendo haver, consequentemente, menor chegada de glóbulos brancos (células de defesa) nas áreas agredidas. Mas não existe nenhum estudo que comprove a relação entre as oscilações de temperatura no ambiente e a baixa das defesas imunológicas do organismo.


Existem também cílios que revestem as vias aéreas e que, ao se movimentarem, trabalham na defesa do sistema respiratório e expulsam agentes indesejados e evitam que cheguem aos pulmões. Quando a temperatura diminui, estes cílios movimentam-se menos e isso pode facilitar a entrada de vírus, fungos e bactérias.


Entre as crianças, as doenças respiratórias são mais frequentes nos meses de março a julho e em setembro/outubro. O clima seco, a baixa umidade do ar, o ar mais frio são alguns dos fatores implicados nessa sazonalidade, agravando as crises de patologias crônicas como a asma e a rinite.


Quando falamos em saúde, existe sempre o fator individual, que é característico de cada pessoa e engloba características de moradia, genéticas, climáticas, culturais, alimentares e pode fazer com que um desses fatores mencionados, nessa pessoa, exerça alguma influência significativa.


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Relator:

Fernando Manuel Freitas de Oliveira

Pediatra, Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP.

Membro da Comissão de Ensino e Pesquisa da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.


Alfonso Eduardo Alvarez

Presidente do Departamento Científico de Pneumologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo


Tudo o que foi escrito acima está perfeito, vou apenas complementar com 3 itens:

O ar seco é agressivo para as vias aéreas. Nos meses de outono/inverno, na região sudeste do Brasil, o ar fica extremamente seco, chegando às vezes a 15% de umidade ou menos, sendo que o ideal é que fique em torno de 65%. Por esse motivo é muito importante colocar um umidificador no quarto da criança, pelo menos no período da noite.


Um dos principais motivos do aumento das infecções respiratórias nos meses frios é o fato das pessoas ficarem aglomeradas em ambientes fechados, o que facilita muito a propagação de vírus e bactérias. Desta forma, muitas vezes o vilão não é o frio em si, mas o fato das pessoas ficarem em ambientes fechados, favorecendo a transmissão de infecções.


Vale lembrar também que as mudanças bruscas de temperaturas, típicas da região sul e sudeste do Brasil nos meses de outono/inverno, são um forte desencadeante de crises de asma e rinite alérgica. Ou seja, não é o frio em si que desencadeia as crises, mas as mudanças bruscas de temperaturas.




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