De acordo com relatórios recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 25% das mortes de crianças menores de cinco anos, cerca de 1,7 milhões de crianças, são causadas pela poluição ambiental, que inclui a poluição do ar em ambientes fechados e ao ar livre, o fumo passivo, a água contaminada, a falta de saneamento e a higiene inadequada. Crianças são particularmente vulneráveis à poluição atmosférica, desde o útero até à idade adulta, sofrem mais significativamente o impacto da poluição, em comparação com os adultos. Há razões fisiológicas para isso:
As crianças ingerem mais água e alimentos e respiram maior quantidade de ar por unidade de peso corporal que um adulto. Isto pode permitir que agentes químicos presentes na água, como metais (chumbo) ou compostos orgânicos lipossolúveis absorvidos pela mãe e veiculados ligados à gordura no leite materno, sejam detectados em fluidos biológicos do lactente amamentado ao seio; pode, ainda, expor mais a criança a poluentes presentes no ar do ambiente doméstico e do ambiente externo.
Características próprias do desenvolvimento dos lactentes, que respiram mais próximo do solo (engatinham, ficam mais sentados, baixa estatura), aumentando o risco de exposição a material particulado e alguns gases (como monóxido de carbono e radônio) que se acumulam nesta zona ambiental.
As crianças tendem a levar a mão à boca com mais facilidade, por isso podem contaminar-se mais por essa via.
A via aérea infantil tem menor calibre e maior resposta irritativa, o que faz com que a obstrução e a inflamação sejam mais relevantes quando em contato com a poluição. Esse detalhe explica a elevada incidência de casos de asma, no mundo todo, em crianças.
Convém salientar a importância da qualidade do ar intradomiciliar que pode ser afetado por fumaça de cigarro, lareiras, fogões a lenha, fogões a gás mal instalados, poeira doméstica, além dos poluentes externos que invadem esse espaço. Têm importância, também, compostos voláteis oriundos de várias fontes (tintas, colas, perfumes, propelentes de sprays e produtos de limpeza). Cronicamente, essa exposição repercute em menor crescimento pulmonar com comprometimento de sua função e aumento da suscetibilidade a doenças.
A umidade no ambiente domiciliar facilita a proliferação de fungo, ácaros e bactérias. Colchões, tapetes, móveis costumam ser os principais reservatórios desses agentes.
O tabagismo passivo é responsável por muitos problemas causados à criança. As crianças cujas mães são fumantes têm cerca de 70% mais problemas respiratórios e maior número de hospitalizações ao longo do primeiro ano de vida. O tabagismo intraútero aumenta a mortalidade infantil em até 80%. A fumaça liberada pelos cigarros, charutos ou cachimbos é composta por mais de 3800 substâncias diferentes e os níveis de matéria particulada chegam a ser 3 vezes maiores em casas com tabagistas.
Em adultos, podem afetar a função pulmonar, desencadear asma, provocar exacerbações da DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica), aumentar o risco de eventos cardiovasculares graves, como o infarto do miocárdio e acidentes vasculares encefálicos e o desenvolvimento de doença coronariana, além de câncer de pulmão.
Nós podemos fazer uma grande diferença para ajudar o meio ambiente. Seguem dez escolhas simples para um planeta mais saudável:
Reduza o que joga fora, reutilize e recicle;
Faça trabalho voluntário;
Eduque-se e ensine os outros da importância e o valor dos nossos recursos naturais;
Economize água;
Faça escolhas sustentáveis;
Compre com sabedoria – menos plástico e use sacolas reutilizáveis;
Use lâmpadas de longa duração e desligue a luz quando sair da sala;
Plante uma árvore;
Não envie produtos químicos para os cursos de água, escolha produtos químicos não tóxicos;
Ande mais de bicicleta e de transporte público, dirija menos.
As políticas de qualidade do ar devem proteger a saúde das crianças e adolescentes, tendo explicitamente em conta as diferenças na sua biologia e vias de exposição.
Crianças e adolescentes não podem proteger-se da poluição atmosférica, nem votar ou influenciar políticas relevantes; só os adultos podem e devem fazer isso por eles, e é urgente.
Precisamos responder com esforços concentrados e nos unir por meio de ações coletivas e coordenadas.
Saiba mais:
OMS: 99% da população mundial respira ar “tóxico”. 4 de março de 2024. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2024/03/1828507
World Health Organization. Children’s environmental health. Disponível em: https://www.who.int/health-topics/children-environmental-health#tab=tab_
No Brasil, doenças associadas à poluição do ar matam cerca de 465 crianças menores de cinco anos por dia. 08/07/2024. Disponível em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/no-brasil-doencas-associadas-a-poluicao-do-ar-matam-cerca-de-465-criancas-menores-de-cinco-anos-por-dia/
Como as mudanças climáticas impactam a nossa saúde. Disponível em: https://doareassets.s3.sa-east-1.amazonaws.com/Como+as+mudan%C3%A7as+clim%C3%A1ticas+impactam+a+nossa+sa%C3%BAde.pdf
Air pollution and children’s health. Disponível em: https://www.eea.europa.eu/publications/air-pollution-and-childrens-health
Ten simple choices for a healthier planet. https://oceanservice.noaa.gov/ocean/earthday.html
Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da SPSP
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