Professor de bioética da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, o médico Rui Nunes participou na manhã dessa terça-feira (13) de uma palestra sobre a autonomia do médico e do paciente no mundo pós-covid. Em sua fala, o português elogiou o trabalho dos médicos durante a pandemia da covid-19 e elencou os desafios que a classe médica e a sociedade terão após a pandemia. “Apesar das adversidades, demos o nosso melhor, não abandonamos nossos pacientes, e fomos reconhecidos mundialmente por nosso trabalho”, afirmou.
A palestra de Rui Nunes fez parte da reunião da Câmara Técnica de Bioética do Conselho Federal de Medicina (CFM). O coordenador do colegiado, conselheiro Hiran Gallo, agradeceu a participação do catedrático português no evento do CFM e ressaltou que a autarquia também defende a autonomia do médico e o direito à objeção de consciência. “Aprovamos um parecer que garante o direito de médico, de, em conjunto com paciente, escolher o melhor tratamento para enfrentar o Sars-Cov-2”, explicou.
Sigilo Médico – O professor Rui Nunes afirmou que duas alterações vão mudar a prática médica num futuro próximo: a transição digital e os bens públicos globais. As novas tecnológicas trarão o desafio da garantia do sigilo médico dos prontuários eletrônicos. “Esta não é uma responsabilidade apenas do médico, mas temos de dar uma salvaguarda para que não haja perda de confiança na relação com o paciente”, ressaltou.
Em relação aos bens públicos globais, Rui Nunes defendeu um equilíbrio entre a soberania dos Estados e os problemas globais como migrações, aquecimento da Terra e falta de água. Ele também enfatizou a necessidade da autonomia do médico na relação com o paciente. “Recentemente, o parlamento europeu aprovou uma recomendação que é um entrave ao exercício da objeção de consciência pelo médico. Somos contrário, pois o médico, ao usar esse direito, não abandona o paciente, mas encaminha-o a outro profissional que pensa diferente”.
O catedrático português também criticou outra decisão recente da França e da Grécia que obrigaram a vacinação de médicos e enfermeiros. “Defendo o uso da vacina, por uma questão de saúde coletiva, mas uma sociedade que parte para a imposição é porque faltaram mecanismos mais adequados, como o debate cívico”, pontuou.
Por fim, Rui Nunes propôs a elaboração de uma convenção internacional com orientações médicas em períodos pandêmicos. “Seriam guidelines para orientar os profissionais a tomar decisões difíceis, como enfrentaram os médicos italianos e espanhóis, no começo da pandemia, quando tiveram que decidir quem deveria receber, ou não, um respirador”, pontuou. Durante sua participação, o professor elogiou o trabalho do Doutorado de Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), que mantém um convênio com o CFM. No último ano, apesar da pandemia, seis doutorandos apresentaram suas teses em bioética, sendo quadro brasileiros e dois portugueses.
Comments