"O futuro da Residência Médica no Brasil" foi o tema central do XI Fórum da Comissão de Ensino Médico do Conselho Federal de Medicina (CFM), realizado em 5 de dezembro, em formato online, que contou com a participação da presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), Irene Abramovich.
A primeira mesa de discussão, intitulada "Onde estamos?" e mediada pelo conselheiro e representante do CFM na Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), Anastácio Kotzias Neto, teve seu debate protagonizado por Irene e pelo conselheiro federal Alcindo Cerci Neto. Já as palestras ficaram a cargo do membro da Comissão de Ensino Médico do CFM, Milton de Arruda Martins; do presidente da Associação Nacional de Médicos Residentes (ANMR), Euler Nicolau Sauaia Filho, e do presidente da Comissão Estadual de Residência Médica (CEREM) de São Paulo, Luiz Koiti Kimura.
Palestras
A importância da residência médica (RM) foi discutida por Milton, durante sua apresentação. Locais como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Portugal e Espanha foram citados como referência em relação ao programa que, inclusive, nestas regiões, é obrigatório para a atuação médica — diferentemente do Brasil. Martins também enfatizou que, nestas localidades, com exceção dos EUA, as vagas para a RM são definidas pelas autoridades de saúde, como forma de atender às necessidades da população.
De acordo com Arruda, nestas regiões, a formação de especialistas está centrada na residência médica — fato este que considera essencial. "O aprendizado na vida real, sob supervisão, é o modo mais adequado para formar profissionais", destacou.
Já Euler, em sua palestra, criticou a atual bolsa de remuneração dos residentes no Brasil, enfatizando que, muitas vezes, eles são escalados para atuar em locais distantes, sem a infra-estrutura apropriada e sem as condições necessárias para se manterem.
Para finalizar a rodada de apresentações, Kimura discorreu sobre o futuro da residência médica no País, e defendeu a transformação do método de ensino voltado ao conteúdo pragmático, para um que priorize o desenvolvimento de habilidades. O presidente da CEREM também apontou que a pandemia da covid-19 está e continuará sendo responsável pela ampliação do conhecimento médico e que, inclusive, já demanda novas competências e mudanças na educação.
Debates
Irene iniciou o debate enfatizando e defendendo a importância de se discutir residência médica no Brasil. Embasando-se nas palestras, corroborou a fala de Martins, afirmando que o sistema de saúde precisa discutir a necessidade de especialistas no País, uma vez que há a falta de profissionais em determinados segmentos, como no caso da Medicina da Família e Comunidade. "Não temos procura espontânea de alunos por algumas especialidades. Isto ocorre, sobretudo, em decorrência da falta de incentivo do mercado e do preconceito que muitas vezes está presente nas próprias faculdades", apontou.
A presidente do Cremesp também abordou a abertura indiscriminada de vagas para a residência médica e falou sobre os métodos de avaliação dos residentes no programa, sugerindo que é fundamental que seja feita, também, com base nos portfólios dos estudantes. Outro ponto, que foi alvo de crítica de Irene, dispõe sobre a cultura "hospitalocêntrica" da residência médica, que impede a atuação dos profissionais em postos de saúde e unidades básicas de saúde (UBS). "Hoje, a prática médica não é só hospital, é tudo!"
Para finalizar o debate, Cerci fez algumas ponderações sobre os discursos dos palestrantes e frisou a relevância de se rediscutir o funcionamento da residência médica no País, visto que o exercício da Medicina vem se inovando, principalmente com a atual pandemia. O conselheiro federal também apontou dicotomias nas falas, relativas à dedicação exclusiva em outros países e ao valor da bolsa dos residentes.
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