Todos nós, pediatras, sabemos que os circuitos neurais, que fazem parte do universo imenso de neurônios, têm à sua disposição mais de 100 trilhões de possíveis conexões sinápticas para serem utilizadas. São rotas passíveis de uso para o tráfego de informações. Quanto mais uma via desse tipo é utilizada, mais ela determina caminhos que tendem a ser mais fácil e preferencialmente usados.
A atenção das nossas crianças está sendo desviada e roubada, cada dia mais, por uma enxurrada de estímulos externos (telas de todos os tipos), que disputam um lugar privilegiado na rede neural de seus cérebros.
Sabemos, como pediatras, que:
nossas crianças estão mais ansiosas e deprimidas;
tem aumentado o número de tentativas e suicídios na faixa etária pediátrica (aumento de 29% nas idades entre 10 e 24 anos);
nossas crianças têm apresentado baixo rendimento em leitura, detectado no PISA 2018 (em 2024 variou muito pouco o lugar que o Brasil ocupa no ranking) – ficou entre 58 e 60;
a violência urbana tem crescido. Mortes por causas externas (acidentes e violências) aumentaram 16% entre 2010 e 2022;
o narcotráfico é uma realidade, assustadoramente presente nas cidades e municípios de nosso país;
que o mercado de trabalho, em futuro muitíssimo próximo, exigirá de nossos jovens competências de conhecimento e emocionais, cada vez mais refinadas.
Certamente nós, pediatras, ficamos incomodados com esses dados. A SPSP está lançando a campanha “Leitura em Família. Fortalecendo o desenvolvimento e os afetos”, com a plena convicção de que a leitura em família é um instrumento que, embora singelo, é eficaz para fortalecer tanto o desenvolvimento cognitivo quanto o emocional das nossas crianças.
O convite é para que você se engaje nessa campanha, pois, como pediatras, ainda temos um papel privilegiado perante as famílias, pois, em geral, elas ainda nos escutam.
Relator:
Fernando MF Oliveira
Coordenador do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo
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